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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Educação como um ato político

Autor: Leonardo Gedeon


O ato de educar, no longo e infindável desenvolver da espécie humana , sempre foi um ato imbuído de responsabilidade e compromisso na preparação e formação dos indivíduos que compõe uma sociedade.As relações sociais entre indivíduos, adultos e crianças, promove a sustentabilidade das noções básicas para a reprodução de modos e normas fundamentais para a continuidade da vida comunitária.

A reprodução da ordem social , e a continuidade do modo de produção , depende da educação das futuras gerações. Mas, a educação é um processo amplo que prepara toda a população para exercer seu papel produtivo na sociedade?

De maneira democrática , a Constituição de 1988 assegura:

“Art.205.A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,visando o pleno desenvolvimento da pessoa , seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

O processo educacional visa, teoricamente, proporcionar a população um desenvolvimento individual para fins da ordenação coletiva, como a assunção da cidadania e principalmente a “qualificação para o trabalho”. O Estado que deveria proporcionar o direito a educação, atende aos interesses de uma classe social, a classe dominante e seus interesses minoritários. Como afirma Paulo Freire (1996, p. 99), “do ponto de vista dos interesses dominantes, não há dúvida de que a educação deve ser uma prática imobilizadora e ocultadora de verdades.”

Neste contexto o processo ensino/aprendizagem não informa, omite, não estimula, neutraliza, simplesmente não forma, “deforma”. Mas, com certeza, o modelo mercantilista de ensino prepara os indivíduos; para reproduzirem o paradigma econômico vigente e servirem a uma sociedade classista apenas como mão-de-obra no processo de produção. A diferença entre trabalho intelectual e trabalho manual é essencialmente fragmentada pela formação educacional, “enquanto um grupo minoritário de pessoas, pela educação que recebeu, possa dedicar-se a tarefas puramente intelectuais, enquanto a grande maioria dedica o seu tempo à produção material”, com afirmam Harnecker e Uribe (1981, p.40)

A estratificação das classes sociais começa com a educação. Contudo, a educação é ideológica, privilegiando a educação privada e burguesa, autônoma o suficiente para investir e otimizar seus recursos e desprestigiando a educação popular. A obra “Educação e luta de classes” de Aníbal Ponce, mostra a educação como um fenômeno social ligado à superestrutura e compreendida através da análise sócio-econômica da sociedade.

Os escassos recursos que mantém as instituições públicas de ensino limitam a formação intelectual e política dos indivíduos que tem a educação de qualidade como um direito constitucional. Para as classes dominantes a instrução popular não é interessante, primeiro porque com a educação de qualidade para todos não se asseguraria o domínio político dos privilegiados, sendo ininterruptamente questionado e segundo pela autonomia que a população chamada de “massa de manobra” teria com sua emancipação. A educação emancipadora é defendida por vários pedagogos e educadores, como o único viés de libertação das camadas oprimidas , proporcionando uma participação política mais coerente, com propostas e atitudes de intervenção social. Freire (1987. p.30) justifica a pedagogia do oprimido como “a luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas...”

A educação é um ato político, ideológico e emancipatório (ou doutrinador), que cria vínculos e compromissos com o futuro, de maneira a contribuir como seres humanos, que vivem e realizam suas atividades em sociedade. Como Rosseau (2003. p.99) alega que, “ a paz , a união e a igualdade são inimigas das sutilezas políticas...”, demonstrando a contrariedade de valores entre opressores e oprimidos que nos permite observar o porquê da doutrinação no sistema educacional.
 

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