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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Empreendedorismo e educação

Desde o final do último século o mundo vem passando por mudanças consideráveis em diversos contextos, Saraiva (1999) aponta a globalização da economia como um exemplo marcante dessa mudança, como uma espécie de reafirmação do capitalismo. A autora afirma que mais do que isso, a globalização trouxe consigo mudanças em diversos outros setores, como na política, na educação, na tecnologia entre outras.

O mundo globalizado está ao alcance de todos e em vista disso, Silva et al.(2008) afirmam que “a sociedade passa a exigir então que seus indivíduos desenvolvam um espírito competitivo de forma a sobreviver principalmente à instabilidade do mercado atual, que sofre constantes mudanças”. É preciso ainda que se tenha a versatilidade de se adequar a cada uma delas, “sabendo administrá-las de forma positiva”.

Percebe-se que não é apenas a formação profissional ou a experiência que importam no mercado de trabalho, e sim, as características e habilidades que o indivíduo traz consigo, Dornelas (2005) diz que hoje em dia as pessoas não precisam apenas saber fazer algo. Precisam ser alguém: uma pessoa dinâmica, criativa e acima de tudo bem informada. Capaz de gerenciar ser conhecimentos e conflitos, habilidosa nas relações interpessoais e acima de tudo pronta a enfrentar os mais diversos desafios do mundo moderno. O autor conclui que o acesso à informação nunca foi tão facilitado, devido, inclusive, aos avanços tecnológicos. O conhecimento hoje vale muito na sociedade polivalente, globalizada e conseqüentemente competitiva.

E em meio a tudo isso o empreendedorismo aparece semelhante a uma palavra de ordem. Segundo Cruz (2005) “empreendedorismo surgiu num contexto relativamente recente, há cerca de vinte anos nos Estados Unidos com o objetivo de estimular a criação de empresas de sucesso”. Para Terra (2008, p. 1) o empreendedorismo se apresentará nesse século como uma verdadeira revolução social, comparada à Revolução Industrial do século passado.

Barreto (1998 apud Martins, 2002, p. 4) traz uma ampla definição de empreendedorismo como sendo

(...) a habilidade de criar e constituir algo a partir de muito pouco ou do quase nada. Fundamentalmente, o empreender é um ato criativo. É a concentração de energia no iniciar e continuar um empreendimento. E o desenvolver de uma organização em oposição a observá-la, analisá-la ou descrevê-la. Mas também a sensibilidade individual para perceber uma oportunidade quando outros enxergam caos, contradição e confusão. É o possuir de competências para descobrir e controlar recursos aplicando-os de forma produtiva.

Entretanto, não se pode deixar de mencionar que a palavra empreendedor não se restringe apenas ao âmbito administrativo, fazendo menção apenas ao empresário. Ao contrário, como completa Martins (2002, p. 4)

Ser empreendedor hoje não significa necessariamente ser um empresário com grandes meios de produção. A palavra empreendedor, de sentido bastante amplo, no contexto aqui delineado, ressalta a introjeção de valores, atitudes, comportamentos, formas de percepção do mundo e de si mesmo, voltados para as atividades em que o risco, a capacidade de inovar, perseverar e de conviver com a incerteza são elementos indispensáveis.

Em conformidade com Dornelas (2001, apud Lucas Júnior, 2003, p. 4)

(...) o momento atual pode ser chamado de a era do empreendedorismo, pois são os empreendedores que estão eliminando barreiras comerciais e culturais, encurtando distâncias, globalizando e renovando os conceitos econômicos, criando novas relações de trabalho e novos empregos, quebrando paradigmas e gerando riqueza para a sociedade.

Ao longo dos anos os conceitos foram sofrendo críticas e reformulações, mesmo para pôr fim a significados errôneos e equivocados pertencentes ao senso comum.

Longen (1997 apud Ottoboni, 2003, p. 7) observa que ainda hoje não há um consenso quanto à definição do termo. Ainda em conformidade com essa autora

(...)somente em 1911, com Joseph A. Schumpeter, é que a conotação de empreendedor adquiriu um novo significado, ou seja, o empreendedor é o responsável pelo processo de destruição criativa, sendo o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista, criando, constantemente, novos produtos, novos métodos de produção, novos mercados e, implacavelmente, sobrepondo-se aos antigos métodos menos eficientes e mais caros.

Drucker (1999 apud Ottoboni, 2003) afirma “que necessitamos de uma sociedade empreendedora, na qual a inovação e o empreendimento sejam normais, estáveis e contínuos”. Santos (2004) acrescenta que “precisa-se de uma sociedade apta a vencer os obstáculos existentes, capaz de desenvolver uma produtividade positiva, superando os efeitos negativos da instabilidade do mercado”. Ou seja: uma sociedade capaz de empreender e de inovar. Capaz de buscar soluções inovadoras para os problemas cotidianos, “encontrar caminhos a partir de novas perspectivas”. Abrir caminhos por lugares ainda não conhecidos. Compreende-se então, que empreendedorismo e a inovação são dois termos importantes que andam juntos apesar de terem significados diferentes.

Entende-se que não é de todo necessário ser inovador para ser empreendedor, contudo o inovador, por si só já é um empreendedor. Ele não tem medo, rompe paradigmas e vai à caça do sucesso, buscando concretizar seus sonhos. Kaufmann (1990 apud Cruz Junior, 2006, p. 6) “enfatiza que a capacidade empreendedora está na habilidade de inovar, de se expor a riscos de maneira inteligente, e de se ajustar às rápidas e contínuas mudanças do ambiente de forma rápida e eficiente”. Assim, tem-se que todo empreendedor é um inovador, não tem medo de inovar, superas os riscos e dificuldades em busca de coisas novas.

Ainda que o mundo esteja fortemente marcado pelo avanço tecnológico, existem habilidades comuns apenas aos seres humanos e através delas as pessoas são cada vez mais valorizadas, mesmo porque, como já foi mencionado o maior de todos os recursos é considerado hoje o conhecimento. Contudo afirma Rowley (1999, p. 428) “que a gestão do conhecimento ainda se consiste num desafio. Não adianta apenas tê-lo. É preciso que se saiba refiná-lo em meio a tantas informações, buscar fontes seguras, conhecimentos mais sólidos e melhor embasados”. É necessário também saber usá-lo de forma inteligente, inovadora e empreendedora.

A capacidade de inovação é uma das que mais se destacam comumente. Segundo Britto (2003, p. 58) “num mundo onde o conhecimento é extremamente valorizado, a inovação se destaca, sobressai. Torna o indivíduo mais apto à competitividade”. Essa capacidade então concede ao indivíduo o chamado “jogo de cintura” capaz de auxiliá-lo em frente às situações mais delicadas, de forma que saia vitorioso sobre elas. No entanto, inovação e criatividade também seguem juntas. De acordo com Terra (2007, p. 3) “pode-se afirmar que quem inova, cria”. O autor completa

A criatividade é uma das mais cobiçadas características do mercado de trabalho, e é intimamente ligada à inovação. Inovação e criatividade se completam. Não há como não ser inovador quando se é criativo, quando se rompe paradigmas e se busca soluções diferenciadas para a solução de problemas existentes.

Quanto a isso Dolabela (2001, p. 1) afirma que “pessoas criativas e auto-suficientes devem contribuir para a criação de uma sociedade empreendedora. Estas devem gostar de desafios e saber alterar a mentalidade social.” Assim sendo, parece que não basta ser inovador nem criativo para si. Há uma necessidade de sê-lo para o mundo. Para a comunidade em que vive, sempre visando contribuir de alguma forma. Ainda no que diz respeito a uma ligação entre esses dois termos, inovação e criatividade, Amorim (2007, p. 4) vem dizer que

A inovação é dependente da criatividade, que surge da interação dos pensamentos de uma pessoa com um contexto sócio-cultural. Trata-se de um fenômeno sistêmico ao invés de um fenômeno individual e, por isso, deve ser elaborada de maneira a ser compreensível por outros.

Para Terra (2008, p. 4) “a inovação e a criatividade, portanto, por si só nada representam. Precisam de um sentido, de um significado para que tenham valia para outras pessoas, não apenas para o inovador”. Daí vem a importância do espírito empreendedor articulando uma inovação empreendedora. No intuito de se buscar um esclarecimento maior acerca da inovação empreendedora, recorreu-se a Lucas Junior (2003, p. 3), que explica o termo como sendo

algo inerente ao próprio processo empreendedor, quando as necessidades do dia a dia forçam a tomada de decisão. Ou seja, a inovação está nas oportunidades diárias, riscos atribuídos e tomados, diversidades culturais, religiosas, política e principalmente que se deve mudar. A mudança permite que a inovação faça parte do processo empreendedor.

A inovação parece, portanto necessária num cenário competitivo. No entanto, precisa ser bem empreendida, para que não se perca, nem perca o seu sentido. A inovação pode ser o diferencial entre uma e outra pessoa, marcada pelo espírito empreendedor.

Fica evidente que profissionais bem preparados tendem a enfrentar com maior facilidade os constantes desafios da economia globalizada e atualmente volátil, diante da crise econômica mundial atual. Mas como se prepara um profissional capaz de sobreviver a tantas instabilidades? Diante disto a educação pode despontar com destaque, tendo em vista o importante papel que representa na sociedade, sobretudo relacionado à bem preparar o indivíduo para a vida.

Referências :

BRITTO, Francisco; WEVER, Luiz. Empreendedores brasileiros: vivendo e aprendendo com grandes nomes. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

CRUZ JÚNIOR, João Benjamim & outros. Empreendedorismo e educação empreendedora: confrontação entre a teoria e prática. Artigo disponível em: http://www.oei.es/etp/empreendedorismo_educacao_emprendedora_cad.pdf Acesso em 14/08/09

CRUZ, Carlos Fernando. Os motivos que dificultam a ação empreendedora conforme o ciclo de vida das organizações. Um estudo de caso: Pramp’s lanchonete. 2005. 125 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis.

DOLABELA, Fernando. O segredo de Luísa. Rio de Janeiro: Campus, 2001

DORNELAS, José Carlos Assis. É possível ensinar empreendedorismo? Artigo publicado no site EmpresaBrasil, e disponibilizado em: http://www.empresabrasil.com.br/artigos/index.php?destinocomum=noticia_mostra&id_noticias=6&id. Acesso em 19/09/09

___________. Empreendedorismo : transformando idéias em negócios. 2. ed. Rio de Janeiro, 2005.

LUCAS JÚNIOR, Gilberto Corrêa. A utilização da inovação e o espírito empreendedor em uma empresa familiar: um estudo de caso da Entrelinhas. Rio de Janeiro. 2003. Artigo disponível em http://pesquisaecia.blogspot.com/2007/10/empreendedor-empreendedorismo.html - 20k -. Acesso em 14/08/09

MARTINS, Anderson Mattos & outros. Um enfoque empreendedor para a educação a distância. Artigo apresentado no XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Curitiba, 23 a 25 de outubro de 2002. Artigo disponível em http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2002_TR113_0190.pdf . Acesso em 23/09/09

_________, Conhecimento disponibilizado de forma assertiva: a inteligência empreendedora aplicada à educação. Salvador, 2003. Artigo disponível em: http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espacovirtual/espaco...II/.../conhecimentodisponibilizadodeformaassertiva.pdf . Acesso em 14/08/09

OTTOBONI, Célia. Empreendedorismo como metodologia inovadora de ensino – um estudo de caso. Anais do VI SEMEAD. São Paulo: FEA/USP, 2003. Artigo disponível em: http://www.ead.fea.usp.br/Semead/10semead/sistema/resultado/trabalhosPDF/574.pdf Acesso em 18/09/09

STEPHANOU, Luis; Muller, Lúcia Helena; Carvalho, Isabel Cristina de Moura. Guia para a elaboração de projetos sociais. Porto Alegre. Editora Sinodal e Fundação Luterana de Diaconia. 2003.

TERRA, Branca. O empreendedorismo e a inovação tecnológica. 2008. Artigo disponível em http://www.venturecapital.gov.br/vcn/empreendedorismo_CR.asp - 35k - Acesso em 21/10/09.

ROWLEY, J. What is Knowledge Management? Library Management, V. 20, N. 8, p. 426 -419, 1999.

SARAIVA, Miriam Gomes. "Os processos de Integração Latino-Americanos e Europeu. As Experiências dos Anos 60 e o Modelo de Integração com Abertura Econômica dos Anos 90". Revista Internacional de Estudos Políticos, vol. 1, n.1, 1999.

SILVA, Luiz França et al. A competência e a arte de empreender. Disponível em:
http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/d086c43daf01071b03256ebe004897a0/21955e640a5c419d03256e3f0068e7c3/$FILE/NT0003C856.pdf. Acesso em: 08 set.2009.

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