Este é um espaço para discussão e informação sobre educação em suas diversas modalidades.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Lançamento do livro: LÚDICA LUZ EM ÁGUAS TURVAS



O livro tem a autoria de Luiz Fernando de Oliveira, cronista dos jornais A Gazeta, Agora, Informativo J.G. e Jornal da Eterna Misericórdia em Lavras/MG. Em seu segundo livro Oliveira escreveu poesias “sobre a beleza e angustia de existir”.

Este segundo livro assim como o primeiro intitulado "Sobre meu pequeno mundo... (Dez crônicas e um conto)", terá toda a renda arrecadada revertida à comunidade Eterna Misericórdia.

O Valor do livro é de apenas R$ 8,00, um preço insignificante diante da grandiosidade a que ele se propõe. Além de divulgar a poesia e estimular a leitura ajuda ainda a comunidade Eterna Misericórdia. Uma dica é comprar vários exemplares e presentear amigos e familiares, um bom livro é sempre uma boa pedida!

O evento acontecerá dia 11 de Junho, sábado, às 19h00min horas, no Salão Paroquial da Igreja Matriz de Santana em Lavras/MG.

Para quem não conhece lavras, uma ótima ocasião!

Visite os sites e veja um pouco sobre a cidade Lavras e a Igreja Matriz de Santana.


Dermeval Saviani, fala sobre o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

Dermeval Saviani, professor da Unicamp, diz que plano do governo precisa da adesão dos gestores...

Se fosse um aluno, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), política educacional do atual governo, estaria ainda nos primeiros anos de escolaridade. Lançado em 2007 pelo Ministério da Educação (MEC) como um conjunto de metas e ações, o PDE vem ganhando corpo e ampliando suas atividades com a adesão maciça de estados e municípios. Seu objetivo é ambicioso: elevar o nível da Educação brasileira aos patamares dos países desenvolvidos. O prazo vai até 2022. Para medir essa evolução, foi criado o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que afere o desempenho de escolas, municípios, estados e do país e define a política de investimento de recursos na Educação. Conforme avança, o PDE recebe análises mais aprofundadas. Uma delas foi feita por Dermeval Saviani, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em história da Educação. Ele acaba de lançar o livro PDE: Análise Crítica da Política do MEC, no qual discute as virtudes, os problemas e os desafios do plano. "O PDE é a primeira política pública educacional a encarar a questão da qualidade do ensino como prioridade. Mas ele é só o primeiro passo", afirma. Nesta entrevista a NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR, ele fala da importância do trabalho dos gestores para que as metas sejam atendidas.

É novidade o Brasil ter um plano que pense no desenvolvimento e na qualidade da Educação?

DERMEVAL SAVIANI A Educação Básica nunca foi objeto de planos nacionais quando estava sob a responsabilidade das províncias, durante o Império (1822-1889), e depois dos estados, na Primeira República (1889-1930). O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, foi um dos primeiros movimentos a chamar a atenção para a necessidade de planejar a Educação e organizá-la em todo o território. A Constituição de 1934 criou o primeiro Conselho Nacional de Educação e determinou que se formulasse um plano nacional, elaborado em 1937 durante a gestão do ministro Gustavo Capanema. O documento até era bem detalhado, mas, com o golpe do Estado Novo, que aconteceu naquele mesmo ano, ele não chegou a ser implantado. A ideia só foi retomada com a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que deu entrada no Congresso Nacional em outubro de 1948 e tramitou por 13 anos, mas nela a preocupação era mais econômica, de distribuição de recursos.

Nenhum documento se preocupava com a qualidade do ensino?

SAVIANI Temos na história da Educação visões diferentes do que deveria ser um plano nacional. O primeiro tinha uma orientação moderna e renovadora, mas não foi implantado. Durante o Estado Novo, regras autoritárias serviram mais como controle ideológico-político, o que se repetiu durante a ditadura. E a preocupação da primeira LDB se restringia apenas ao financiamento.

Como o PDE se insere nesse processo histórico?

SAVIANI A LDB de 1996, seguindo uma determinação da Constituição de 1988, estipulou um ano para a elaboração de um plano nacional, concebido com a junção de duas propostas: uma do governo federal e a outra de um grupo de educadores. Os dois textos foram unificados e o Plano Nacional de Educação (PNE) foi convertido em lei em 2001, com vigência até janeiro de 2011. Já o PDE, lançado em 2007, não é um plano e não substitui o PNE. Ele é uma política pública, um conjunto de medidas e metas para o país, estabelecido por decreto. É, portanto, um ato do poder executivo, não uma lei, e está mais ligado ao Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que envolve ações em diferentes áreas da economia para impulsionar o crescimento econômico do país. Como o PAC previa que cada ministério deveria ter um plano de atuação, o MEC reuniu um conjunto de ações que já desenvolvia, acrescentou algumas novas e assim nasceu o PDE.

O PDE propõe ações eficientes para a Educação ter qualidade?

SAVIANI O grande ponto positivo do PDE é justamente ele se dispor a combater o ensino ruim que a Educação Básica oferece. A partir da década de 1990, tivemos avanços na questão quantitativa. Porém não basta garantir o ingresso. É preciso também assegurar a conclusão. Até 2007, as políticas desenhadas para garantir a permanência das crianças deixaram a desejar do ponto de vista pedagógico, pois se preocupavam apenas em aumentar o número de alunos que chegavam ao 9º ano (8a série), sem garantir a aprendizagem.

O que mudou com o Plano de Desenvolvimento da Educação?

SAVIANI O PDE atrelou a permanência na escola à qualidade do ensino e para isso instituiu o Ideb. Ele é uma composição do resultado dos alunos em avaliações nacionais, como a Prova Brasil e o Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb), com as taxas de aprovação e evasão de cada escola. Assim, ele não ficou apenas como um número nacional, mas está conseguindo refletir a realidade das unidades de ensino. Isso permite identificar os pontos de estrangulamento e tomar medidas para saná-los. E o MEC tem feito isso, atuando nos municípios prioritários (aqueles com pior desempenho no Ideb), reforçando neles o apoio técnico e financeiro que a Constituição determina que a União preste aos entes federativos.

Depois de dois anos, já é possível dizer que o PDE "pegou"?

SAVIANI Apesar de as metas do PDE serem nacionais e de caráter geral, elas só têm expressão no trabalho efetivo que cada escola realiza. Vivemos em um contexto federativo, ou seja, fora de um sistema nacional. Por isso, é imprescindível a adesão de estados, municípios e escolas. Se os gestores não traduzirem os propósitos e as metas do PDE para as condições específicas de cada unidade, jamais os objetivos serão atingidos. É claro que as dificuldades históricas da nossa Educação, como a infraestrutura, a dupla jornada dos docentes e tantas outras, limitam a ação de diretores, coordenadores e orientadores. Mas há aspectos que dependem diretamente da própria gestão da escola. Um deles é essencial: ter clareza sobre o sentido da Educação escolar para distinguir o que é imprescindível para o trabalho pedagógico do que é secundário. Sem isso, toda a ação da escola se dilui. Se tudo for importante, se tudo for currículo, a tendência é todas as ações da escola terem o mesmo peso. Assim, se abrem as portas para o espontaneísmo, o que inviabiliza o alcance de metas.

O que é imprescindível para o trabalho pedagógico?

SAVIANI O principal é viabilizar o acesso à cultura letrada. O saber espontâneo não depende da escola. Não precisamos dela para aprender a falar, andar e brincar. Mas é necessária toda uma estrutura para aprender a ler e a escrever, já que a escrita não é uma linguagem espontânea. Ela é codificada e precisa de processos formais de aquisição. A escola foi criada com esse papel e até hoje, apesar das críticas, não se descobriu um mecanismo melhor. Os gestores precisam ter consciência de que a aquisição desse conhecimento demanda tempo e uma ação pedagógica contínua e planejada.

No cotidiano do gestor, como as ações podem traduzir a preocupação com o pedagógico?

SAVIANI As questões do dia a dia têm de ser trabalhadas constantemente para que as metas do PDE sejam atingidas. Por exemplo, antes de programar uma excursão, há de se perguntar: quantas horas de aula a atividade vai tomar? Ela compete com os objetivos da escola ou contribui para que eles sejam atingidos? Naquela oportunidade, o aluno vai desenvolver e aprofundar conhecimentos que as aulas propiciaram? Os gestores - ao organizar e dar forma à escola - devem estar atentos a esse enfoque principal da aprendizagem, de tal modo que aquilo que favorece o alcance das metas deve ser incentivado e promovido, e o que entra em conflito, evitado. Quando um diretor acha que a principal função da escola é "que as crianças interajam" ou um orientador educacional fala que para ele "não importa se a criança está aprendendo porque isso deve ser uma preocupação dos professores", por exemplo, o sentido principal do trabalho pedagógico e da própria existência da equipe de gestão já se perdeu e as dificuldades vão aparecer.

Já é possível observar ganhos trazidos pelo PDE para a Educação do país?

SAVIANI Ainda é cedo para avaliar resultados, mas penso que para avançar no ritmo desejado é necessário mais do que o PDE prevê. O MEC se propôs a dar suporte técnico, encaminhando consultores aos estados e municípios para ajudar a definir o Plano de Ações Articuladas (PAR), que seria o PDE local. Por meio dele, os gestores identificaram as prioridades para a Educação da sua cidade e estado e escolheram os programas apoiados pelo MEC que querem implantar. Isso não é suficiente. Primeiro, porque os consultores enviados, em geral, desconhecem a realidade dos locais que visitam e têm limitações de formação pedagógica. Em segundo, muitas escolas operam em condições tão precárias que, por melhores que sejam as orientações que recebam, não vão conseguir se enquadrar no plano. Seria necessário, antes de tudo, investir substancialmente naqueles pontos que historicamente são deficientes, como a infraestrutura e a formação de professores que atendam às necessidades locais.

Em 2010, teremos eleições. Há garantias de permanência do PDE?

SAVIANI Em abril de 2010, teremos a Conferência Nacional de Educação. Ela será decisiva para estabelecer mecanismos que não sejam facilmente desmontáveis com a mudança no governo. Mesmo se o presidente Lula fizer o sucessor, pode haver rupturas. Política é sempre uma correlação de forças que depende da situação. O plano em si se baseia em alguns aspectos da Educação que são consensuais e também por isso os estados e municípios aderiram. O problema é o conteúdo com o qual você recheia a ossatura do PDE.

Com a conclusão do plano em 2022, a Educação brasileira estará melhor?

SAVIANI O PDE não garante isso. Para que a qualidade da Educação seja assegurada, essa área deveria ser tratada como uma questão de Estado e não de governo. Precisamos de uma estrutura com relativa autonomia e bastante distanciada daquilo que eu chamo de política miúda, que envolve os embates entre partidos. Essa estrutura envolveria um Conselho Nacional de Educação que não fosse meramente homologatório, mas deliberativo e autônomo em relação ao Executivo. Ele deveria funcionar quase como um órgão judiciário para normatizar e fiscalizar a Educação.

Como deveria funcionar um órgão regulador da Educação?

SAVIANI Seria um espaço para que a sociedade civil avaliasse as políticas educacionais e propusesse alterações de rumo, a exemplo do que sugeria a primeira LDB, na década de 1960, que previa a criação de um Fórum Nacional de Educação nesses moldes. Enquanto a Educação ficar sujeita às disputas políticas, vão acontecer discrepâncias, como o Governo Federal ter um indicador de qualidade, o Ideb, e São Paulo criar o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp). É uma concorrência que não favorece o desenvolvimento da Educação. A descontinuidade da política educacional é uma realidade histórica no Brasil. A receita para solucionar isso é composta de três ingredientes: a Educação ser tratada como questão de Estado, a criação de um sistema nacional que garanta o mesmo padrão de qualidade para todas as escolas e um plano nacional que fixe, com clareza, as metas e os recursos necessários.

Em que pontos o PDE ainda precisa avançar?

SAVIANI Há duas questões conceituais. A primeira é que, inevitavelmente, o índice se expressa de forma numérica, o que traz certa confusão na interpretação e na divulgação. É preciso ter atenção na hora de compreendê-lo e introduzi-lo nas redes e escolas. Os gestores têm de entender e saber demonstrar as ações que levaram a sua escola a ter um aumento na nota do Ideb. O crescimento de 3,8 para 4,2, por exemplo, reflete a melhora da qualidade da aprendizagem por que motivo? O que foi feito? O projeto político pedagógico estava consistente? A segunda questão está nas provas usadas no cálculo do Ideb. Os exames nacionais desconsideram as especificidades da aprendizagem em diferentes locais. Com isso, é possível questionar até que ponto eles de fato medem a qualidade. Há ainda outra questão: o PDE tem tantas ações que elas se justapõem e o foco na qualidade se perde pela dispersão de atenções e recursos. Não há como atender à informatização das escolas, ao transporte e à expansão do Ensino Superior e das escolas técnicas simultaneamente com o mesmo grau de investimento e qualidade.


sexta-feira, 8 de abril de 2011

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

Autora: Ana Carolina de Paula da Silva*


A EaD tem crescido em número e em importância no cenário nacional e mundial. O mesmo vem ocorrendo com a chamada Educação Empreendedora.

Segundo Filion (1999 apud Carvalho, 2003. p. 47)

os empreendedores são pessoas que precisam continuar a aprender, não somente sobre o que está acontecendo no seu ambiente, mas também sobre o que fazem para ajustar-se à situação. Enquanto estiverem aprendendo, estarão cumprindo o seu papel e agindo de forma empreendedora. O foco principal do seu processo de aprendizagem é a capacidade de detectar oportunidades, por isso vivem num processo de evolução constante.

A escolha dessa definição de empreendedor apresentada por Filion, casa perfeitamente com a proposta desse artigo: a idéia de que a EaD é por natureza, empreendedora.

A Educação Empreendedora é, portanto, aquela capaz de formar pessoas com perfil empreendedor. E não se está somente falando em negócios, não se quer aqui absolutamente restringir o significado de empreendedorismo e empreendedor.

Carvalho (2003, p. 53) apresenta uma afirmação muito interessante

Hoje o empreendedor é produto da ‘revolução do saber’, pois o recurso mais importante não é mais o dinheiro, e sim o conhecimento, ficando na frente de todas ‘as portas’, e todos passando a depender dele.

A educação é todo o estímulo que o indivíduo obtém do ambiente social durante a sua vida, que tem como objetivo adaptar-se às regras e valores sociais. Portanto, podemos dizer que a educação é a base da construção de um país desenvolvido, e este oferece formação acadêmica geral e multidisciplinar.

Assim, tomando por base as palavras de Carvalho, Pode-se compreender que a educação é a base, o agente transformador da realidade.

Diante disso, num mundo onde o empreendedorismo tem se tornado cada vez mais necessário, era de se esperar que a educação, a escola em si assumisse uma postura empreendedora.

Quando se diz ao longo do trabalho que a EaD rompe paradigmas, é sobre isso que também se está falando.

Tomando por base as características da EaD, não fica nada difícil evidenciar que existem diferenças significativas entre ela e a educação presencial.

A EaD é desafiadora e em conseqüência disso, requer o perfil de um aluno e uma escola diferenciadas.

Para Martins (et alli, 2003. p. 5) o aluno empreendedor é aquele que

Hoje quer a provocação, a interação, a reflexão, a motivação para a sua ação de ‘aprender’. Ele percebe no mercado de trabalho que o ‘modelo fordista’ felizmente acabou. O adestramento cedeu lugar ao conhecimento. A educação passou a ser um ingrediente de produção tão valioso como, por exemplo, a energia.

Em conformidade com os mesmos autores, a escola empreendedora é aquela que

(...) se vale de uma rede de relações – os alunos, os professores, os gestores, os administradores e a sociedade – na busca de sua significação neste cenário de mudanças. É aquela que se pauta por um discurso inovador, capaz de preparar pessoas que assumem, que controlam a responsabilidade sobre seu próprio processo de aprendizagem, que compreendem, representam, planejam, revisam formas, detectam e corrigem seus próprios erros na busca de resultados qualquer que seja o empreendimento. (MARTINS et alli, 2003. p. 2)

Ora, na EaD temos um AVA pautado na interação que constitui a sua base através da exploração das mais diversas ferramentas. No caso da EaD via internet, a forma mais comum na atualidade, as ferramentas utilizadas podem ser síncronas e assíncrona.

Nesses AVA’s o papel do professor é o de estimular, motivar, instigar e promover, das mais diversas maneiras possíveis, a interação entre seus alunos, o ambiente em si e o próprio conteúdo.

O professor na EaD trabalha no intuito de despertar constantemente em seus alunos o interesse e a curiosidade. Para tanto, atua desenvolvendo uma prática pedagógia pro-ativa, no intuito de fazer da EaD uma educação colaborativa e não uma educação distante.

O aluno da EaD, por sua vez, precisa estar ciente de sua responsabilidade para com seus estudos, seu comprometimento, o gerenciamento do tempo, a importância da interatividade e a necessidade de empreender seu próprio conhecimento.

O aluno da EaD não deve se contentar apenas com o material disponibilizado para o curso em questão, mas indo além, buscando através da interação e das ferramentas disponíveis, tecer novos e significativos saberes.

Sendo assim, diante de todas essas afirmações, torna-se possível verificar que, em consonância com as conceituações acima, referentes a escola e aluno empreendedor, associadas às características escritas anteriormente sobre a EaD, pode-se dizer que essa modalidade de ensino é, por sua natureza empreendedora.

*Pedagoga (Universidade Federal de São João Del Rei), Especialista em Educação Empreendedora (Universidade Federal de São João Del Rei), Gestão Pública Municipal Integrada (Universidade federal de Juiz de Fora) e em Alfabetização e Letramento (Universidade Federal de São João Del Rei), professora da rede municipal de São João Dei Rei/MG, com vasta experiência em Educação Infantil, direção e planejamento escolar.

Entrevista com Fernando Dolabela


Fernando Dolabela*, consultor e autor do livro "O Segredo de Luísa", entre outras tantas obras publicadas, conta um pouco sobre sua experiência e o seu desconforto com o modelo convencional de ensino e a falta de estímulos para se empreender no Brasil.


Primeiro, por que você se interessou pelo tema EMPREENDEDORISMO?

Eu me interesso pelo tema desde o início da década de 90 quando eu lecionava administração na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para as turmas de Ciência da Computação. Os alunos brilhantes só conheciam um caminho para se inserirem no mercado de trabalho: o emprego. Ora, o Brasil precisava, como precisa até hoje, de empresas inovadoras, principalmente na área de alta tecnologia. Comecei a trabalhar o tema empreendedorismo em sala de aula. Foi um sucesso. Em cinco semestre letivos surgiram 25 empresas reais. Algumas sobrevivem depois de cerca de 15 anos. A partir daí eu me apaixonei pelo tema.

Quais são suas experiências com o empreendedorismo?

Eu me dedico à educação empreendedora. Inicialmente criei uma metodologia para uso na universidade, a "Oficina do Empreendedor". Dei seminários para cerca de 5..000 professores de todo o país e de todas as áreas do conhecimento. Depois criei a metodologia "Pedagogia Empreendedora", para crianças e adolescentes, 4 a 17 anos, que se tornou meu projeto favorito. Hoje essa metodologia está em 127 cidades brasileiras (2.000 escolas, 10.000 professores, 300.00 alunos, aproximadamente) e é considerada uma inovação mundial. Eu tenho duas empresas de consultoria que oferecem cursos online, softwares para elaboração de planos de negócios, consultorias, metodologias voltadas para o desenvolvimento de empreendedores.

O seu trabalho envolve além do tema empreendedorismo, também o tema intra-empreendedorismo. Em sua opinião, há alguma característica em comum entre os empreendedores e intra-empreendedores?

Existem sim características comuns para esses dois indivíduos, o que os diferencia é o ambiente onde eles se encontram. As restrições ao intra-empreendedor são maiores em vários aspectos, mas eles a vantagem da experiência, network e investimentos já realizados. Dentro ou fora da empresa o empreendedor sempre busca a inovação e desenvolve habilidades para trafegar com sucesso no meio ambiente em que atua.
Você acredita que o Brasil é um País empreendedor? Quais as principais dificuldades em se empreender por aqui?

O brasileiro esbanja o DNA do empreendedor, mas até agora não teve a sorte de viver no lugar certo. Criamos um ambiente hostil a quem deseja empreender. Estamos entre os piores do mundo nessa questão. O contexto é negativo; os elementos essenciais à criação e sobrevivência de uma empresa são adversos no Brasil. Se Bill Gates estivesse aqui, provavelmente a Microsoft ainda estaria na garagem.

Quais países se desenvolveram nessa área?

Bons exemplos não faltam, como a Coréia do Sul, China, os Estados Unidos que estimulam a atividade empreendedora. Cada país tem a sua história nessa área; a dos USA é clássica. A China, cujo PIB já foi metade da economia mundial, acordou na década de 80 da letargia comunista através de uma frase de Deng Xiao Ping: enriquecer é glorioso. Estão à frente os países que levam a sério o empreendedorismo e estimulam a inovação.

Nas suas obras e também nessa entrevista você falou sobre o fato de ter características no DNA e também da cultura para empreender. Mas o que mais influencia na hora de empreender?

O senso comum sugere que empreendedores têm características genéticas específicas. Talvez isso seja científico quando o gene empreendedor for identificado. Você vê empiricamente é que todos nós nascemos com o potencial empreendedor. É da espécie. Mas esse potencial pode ser inibido ou estimulado. Na maioria das vezes, não só no Brasil mas em todo o mundo, família e escola funcionam como limitadores.

O potencial empreendedor diz respeito a valores. Não é um tema exclusivamente cognitivo. A sociedade de comando e controle é um desastre na formação de empreendedores. Alguns tipos de cultura, como são mais favoráveis que outros.

Em sua opinião, quais características mais importantes para medir o sucesso de um empreendedor?

Os conceitos de sucesso e fracasso que normalmente empregamos no Brasil não favorecem a atividade empreendedora. Aliás não favorecem nada.

Em primeiro lugar, devemos entender que somente o próprio empreendedor pode medir o seu sucesso. Isso explica o fato não incomum de pessoas que construíram impérios, um sucesso aos olhos de todos, começarem a buscar outros sonhos. Critérios externos de sucesso não são companhia para bons empreendedores.

O sucesso não é, certamente, definido por critérios financeiros. Nem por grandes obras realizadas. Toda conquista finalizada nos leva ao ponto zero, novamente. A chegada nos leva ao vazio.

Tenho a sensação de estar diante do sucesso quando presencio uma pessoa que acorda de manhã, com brilho nos olhos, cheio de energia e diz a si mesmo: só tenho 24 horas para realizar o meu sonho. Com isso quero dizer que o sucesso está na busca, não na chegada. Na nossa cultura, esse é um conceito pouco aceito.

Pra finalizar, quais livros de sua autoria você indicaria para alguém que pretende empreender?

Para os jovens que buscam conhecer mais sobre empreendedorismo eu indicaria "O Segredo de Luísa" e para os pais que desejam que os filhos sejam empreendedores recomendo o livro "Quero construir minha historia". Para o público infanto-juvenil, o romance "A ponte mágica", todos da Editora Sextante.

* Administrador de empresas, especialista na área de empreendedorismo, consultor e professor da Fundação Dom Cabral, ex-professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI-IEL Nacional), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de várias universidades. É autor dos seguintes livros: “O segredo de Luísa”(Cultura, 1999), “Oficina do empreendedor”(Cultura, 1999), “A vez do sonho: com a palavra os empreendedores”(Cultura, 2000), “Boa idéia! E agora? Plano de negócios, o caminho mais seguro para criar e gerenciar sua empresa” (Cultura, 2000), “Empreendedorismo: A viagem do empreendedor” (AED, 2002), “Pedagogia empreendedora”(Cultura, 2003), entre outros.


terça-feira, 5 de abril de 2011

Educar para o século XXI exige integralidade de saberes

Autora: Desirèe Luíse

Há necessidade de novas referências curriculares na escola, que valorizem a integralidade de saberes e experiências. A conclusão foi tirada por debatedores do tema “Metodologias inovadoras: integração de tempos, espaços e conteúdos”, discutido durante o Seminário Internacional de Educação Integral, na última semana, em São Paulo (SP).

“Atualmente, existe uma pressão social para recompor o sujeito. Não há sentido em continuarmos com uma educação que valoriza apenas os aprendizados cognitivo e intelectual. Nas políticas públicas, precisamos de uma atenção integral ao cidadão e seu território”, declarou , Maria do Carmo de Carvalho, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) – instituição que promove ações voltadas à melhoria da qualidade da educação pública.

Para ela, neste século XXI, a educação deve centralizar ações com os objetivos de reduzir as desigualdades sociais, melhorar a sustentabilidade ambiental do planeta e promover o exercício de valores.

No entanto, é necessário que as crianças e jovens tenham uma jornada de tempo integral da pré-escola ao ensino fundamental, unindo à educação atividades artísticas, esportivas, períodos para estudos individuais e outras. “Ainda, temos que reservar um tempo para agirem como acham melhor, fazerem escolhas. Importante também garantir um espaço doméstico. Não chegamos a um equilíbrio”, afirmou Maria do Carmo.

O diretor da ONG mexicana Investigación y Educación Popular Autogestiva (IEAAC), Guillermo Alonso, disse que seu país está vivendo um momento difícil no pós-crise econômica. Para superar, será necessário o investimento na educação integral vislumbrando a transformação da realidade. “No México, hoje, há uma democracia que não é de fato democrática”, avaliou.

Alonso contou que grupos de jovens com os quais a IEAAC trabalha foram expulsos da escola por terem protestado contra o governo vigente. “Eles eram potenciais jovens a deixarem o país, mas retomaram um caminho com o teatro e não enxergaram mais necessidade de imigrar para os Estados Unidos”. A IEAAC incentivou os adolescentes aproveitando a cultura e depois por meio do trabalho.

Segundo Alonso, além da educação deficitária, outro grande problema que o país enfrenta é a violência. Entre 2005 e 2010, 30 mil mortes ocorreram devido ao narcotráfico, sendo pelo menos mil crianças.

“Educar, reabilitar e reintegrar socialmente; empoderar e dar competência à comunidade; prevenir e atender situações de risco. Tudo isso faz parte da educação integral, que em qualquer momento, qualquer situação, aponta como via estratégica para mudar rumos”, concluiu.