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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Entrevista com Fernando Dolabela


Fernando Dolabela*, consultor e autor do livro "O Segredo de Luísa", entre outras tantas obras publicadas, conta um pouco sobre sua experiência e o seu desconforto com o modelo convencional de ensino e a falta de estímulos para se empreender no Brasil.


Primeiro, por que você se interessou pelo tema EMPREENDEDORISMO?

Eu me interesso pelo tema desde o início da década de 90 quando eu lecionava administração na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para as turmas de Ciência da Computação. Os alunos brilhantes só conheciam um caminho para se inserirem no mercado de trabalho: o emprego. Ora, o Brasil precisava, como precisa até hoje, de empresas inovadoras, principalmente na área de alta tecnologia. Comecei a trabalhar o tema empreendedorismo em sala de aula. Foi um sucesso. Em cinco semestre letivos surgiram 25 empresas reais. Algumas sobrevivem depois de cerca de 15 anos. A partir daí eu me apaixonei pelo tema.

Quais são suas experiências com o empreendedorismo?

Eu me dedico à educação empreendedora. Inicialmente criei uma metodologia para uso na universidade, a "Oficina do Empreendedor". Dei seminários para cerca de 5..000 professores de todo o país e de todas as áreas do conhecimento. Depois criei a metodologia "Pedagogia Empreendedora", para crianças e adolescentes, 4 a 17 anos, que se tornou meu projeto favorito. Hoje essa metodologia está em 127 cidades brasileiras (2.000 escolas, 10.000 professores, 300.00 alunos, aproximadamente) e é considerada uma inovação mundial. Eu tenho duas empresas de consultoria que oferecem cursos online, softwares para elaboração de planos de negócios, consultorias, metodologias voltadas para o desenvolvimento de empreendedores.

O seu trabalho envolve além do tema empreendedorismo, também o tema intra-empreendedorismo. Em sua opinião, há alguma característica em comum entre os empreendedores e intra-empreendedores?

Existem sim características comuns para esses dois indivíduos, o que os diferencia é o ambiente onde eles se encontram. As restrições ao intra-empreendedor são maiores em vários aspectos, mas eles a vantagem da experiência, network e investimentos já realizados. Dentro ou fora da empresa o empreendedor sempre busca a inovação e desenvolve habilidades para trafegar com sucesso no meio ambiente em que atua.
Você acredita que o Brasil é um País empreendedor? Quais as principais dificuldades em se empreender por aqui?

O brasileiro esbanja o DNA do empreendedor, mas até agora não teve a sorte de viver no lugar certo. Criamos um ambiente hostil a quem deseja empreender. Estamos entre os piores do mundo nessa questão. O contexto é negativo; os elementos essenciais à criação e sobrevivência de uma empresa são adversos no Brasil. Se Bill Gates estivesse aqui, provavelmente a Microsoft ainda estaria na garagem.

Quais países se desenvolveram nessa área?

Bons exemplos não faltam, como a Coréia do Sul, China, os Estados Unidos que estimulam a atividade empreendedora. Cada país tem a sua história nessa área; a dos USA é clássica. A China, cujo PIB já foi metade da economia mundial, acordou na década de 80 da letargia comunista através de uma frase de Deng Xiao Ping: enriquecer é glorioso. Estão à frente os países que levam a sério o empreendedorismo e estimulam a inovação.

Nas suas obras e também nessa entrevista você falou sobre o fato de ter características no DNA e também da cultura para empreender. Mas o que mais influencia na hora de empreender?

O senso comum sugere que empreendedores têm características genéticas específicas. Talvez isso seja científico quando o gene empreendedor for identificado. Você vê empiricamente é que todos nós nascemos com o potencial empreendedor. É da espécie. Mas esse potencial pode ser inibido ou estimulado. Na maioria das vezes, não só no Brasil mas em todo o mundo, família e escola funcionam como limitadores.

O potencial empreendedor diz respeito a valores. Não é um tema exclusivamente cognitivo. A sociedade de comando e controle é um desastre na formação de empreendedores. Alguns tipos de cultura, como são mais favoráveis que outros.

Em sua opinião, quais características mais importantes para medir o sucesso de um empreendedor?

Os conceitos de sucesso e fracasso que normalmente empregamos no Brasil não favorecem a atividade empreendedora. Aliás não favorecem nada.

Em primeiro lugar, devemos entender que somente o próprio empreendedor pode medir o seu sucesso. Isso explica o fato não incomum de pessoas que construíram impérios, um sucesso aos olhos de todos, começarem a buscar outros sonhos. Critérios externos de sucesso não são companhia para bons empreendedores.

O sucesso não é, certamente, definido por critérios financeiros. Nem por grandes obras realizadas. Toda conquista finalizada nos leva ao ponto zero, novamente. A chegada nos leva ao vazio.

Tenho a sensação de estar diante do sucesso quando presencio uma pessoa que acorda de manhã, com brilho nos olhos, cheio de energia e diz a si mesmo: só tenho 24 horas para realizar o meu sonho. Com isso quero dizer que o sucesso está na busca, não na chegada. Na nossa cultura, esse é um conceito pouco aceito.

Pra finalizar, quais livros de sua autoria você indicaria para alguém que pretende empreender?

Para os jovens que buscam conhecer mais sobre empreendedorismo eu indicaria "O Segredo de Luísa" e para os pais que desejam que os filhos sejam empreendedores recomendo o livro "Quero construir minha historia". Para o público infanto-juvenil, o romance "A ponte mágica", todos da Editora Sextante.

* Administrador de empresas, especialista na área de empreendedorismo, consultor e professor da Fundação Dom Cabral, ex-professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI-IEL Nacional), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de várias universidades. É autor dos seguintes livros: “O segredo de Luísa”(Cultura, 1999), “Oficina do empreendedor”(Cultura, 1999), “A vez do sonho: com a palavra os empreendedores”(Cultura, 2000), “Boa idéia! E agora? Plano de negócios, o caminho mais seguro para criar e gerenciar sua empresa” (Cultura, 2000), “Empreendedorismo: A viagem do empreendedor” (AED, 2002), “Pedagogia empreendedora”(Cultura, 2003), entre outros.


Um comentário:

  1. O livre Educação empreendedora é muito bom! Tenho adorado ler tudo de Fernando escreve.

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