A Internet, as redes,
o celular, a multimídia estão revolucionando nossa vida no cotidiano. Cada vez
resolvemos mais problemasconectados, a distância. Na
educação, porém, sempre colocamos dificuldades para a mudança, sempre achamos
justificativas para a inércia ou vamos mudando mais os equipamentos do que os procedimentos. A educação de milhões de pessoas não pode ser mantida na prisão,
na asfixia e na monotonia em que se encontra. Está muito engessada, previsível,
cansativa.
As tecnologias são só apoio, meios. Mas elas nos permitem realizar atividades de
aprendizagem de formas diferentes às de antes. Podemos aprender estando em
juntos em lugares distantes, sem precisamos estar sempre juntos numa sala para
que isso aconteça.
Muitos expressam seu receio
de que o virtual e as atividades a distância sejam um
pretexto para baixar o nível de ensino, para aligeirar a aprendizagem. Tudo
depende de como for feito. A qualidade não acontece só por estarmos juntos num
mesmo lugar, mas por estabelecermos ações que facilitem a aprendizagem. A escola
continua sendo uma referência importante. Ir até ela ajuda a definir uma
situação oficial de aprendiz, a conhecer outros colegas, a aprender a conviver.
Mas, pela inércia diante de tantas mudanças sociais, ela está se convertendo em
um lugar de confinamento, retrógrado e pouco estimulante.
O conviver virtual vai
tornar-se quase tão importante como o conviver presencial. A escola precisa de
uma sacudida, de um choque, de arejamento. Isso se consegue com uma gestão
administrativa e pedagógica mais flexível, com tempos e espaços menos
predeterminados, com modos de acesso a pesquisa e de
desenvolvimento de atividades mais dinâmicas.
Passando pelos corredores
das salas das universidades, o que se vê é quase sempre uma pessoa falando e uma
classe cheia de alunos semi-atentos (na melhor das hipóteses). A infra-estrutura
é deprimente. Salas barulhentas, a voz do professor mal
chega aos que estão mais distantes. Conseguir um datashow na maioria delas é uma
tarefa inglória. Muitas vezes existe um único equipamento para um prédio
inteiro.
É hora de partir para
soluções mais adequadas para o aluno de hoje. Os adultos
mantemos o status quo, em nome da
qualidade, mas na verdade nos apavoramos diante da mudança, do risco do
fracasso. Mas o fracasso não está bem na nossa frente? Quantos alunos iriam a
nossas aulas se não fossem obrigados? Há maior fracasso do que
este?
A escola pode ser um espaço de inovação, de
experimentação saudável de novos caminhos. Não precisamos romper com tudo, mas
implementar mudanças e supervisioná-las com equilíbrio e
maturidade.
Manter o currículo e as
normas, tal como estão, na prática é insustentável. As secretarias de educação
precisam ser mais proativas e incentivar mudanças,
flexibilização, criatividade.
Professores, alunos e
administradores podem avançar muito mais em organizar currículos mais flexíveis,
aulas diferentes. A rotina, a repetição, a previsibilidade é uma arma letal para
a aprendizagem. A monotonia da repetição esteriliza a motivação dos
alunos.
São muitos os recursos a
nossa disposição para aprender e para ensinar. A chegada da Internet, dos
programas que gerenciam grupos e possibilitam a publicação de materiais estão
trazendo possibilidades inimagináveis vinte anos atrás. A resposta dada até
agora ainda é muito tímida, deixada a critério de cada professor, sem uma
política institucional mais ousada, corajosa, incentivadora de mudanças. Está
mais do que na hora de evoluir, modificar nossas propostas, aprender
fazendo.
O sistema bimodal – parte presencial e parte a distância - se mostra o
mais promissor para os alunos da quinta série em diante. Reunir-nos em uma sala
e reunir-nos através de uma rede são os caminhos da educação em todos os níveis,
com diferentes ênfases. As crianças precisam ficar muito mais tempo juntas do
que conectadas. Mas à medida que vão crescendo, o nível de interação a distância
deve aumentar progressivamente.
Hoje obrigamos os alunos a
ir a um local para aprender. Em determinados momentos isso é um contra-senso. O
importante é que gostem de aprendem de várias formas, motivados, utilizando as
potencialidades de estar juntos e de estar em rede. Os
alunos gostam da comunicação online, da
pesquisa instantânea, de tudo o que acontece just in time, naquele momento. As salas de
aula precisam estar equipadas com acesso a Internet para mostrar rapidamente o
resultado de uma pesquisa em tempo real na sala. Os alunos necessitam de mais
laboratórios conectados, principalmente os mais carentes, sem esse acesso em
casa. Para alunos com acesso a Internet
é possível realizar uma parte do processo de aprendizagem a distância/conectados. E os alunos
sem esse acesso poderiam fazer essas mesmas atividades nos laboratórios.
Todos os que estamos
envolvidos em educação precisamos conversar, planejar e executar ações
pedagógicas inovadoras, com a devida cautela, aos poucos, mas firmes e
sinalizando mudanças. Sempre haverá professores que não querem mudar, mas uma
grande parte deles está esperando novos caminhos, o que vale a pena fazer. Se
não os experimentamos, como vamos a aprender?
Não basta tentar remendos
com as atuais tecnologias. Temos quer fazer muitas coisas diferentemente. É hora
de mudar de verdade e vale a pena fazê-lo logo, chamando os que estão dispostos,
incentivando-os de todas as formas – entre elas a financeira – dando tempo para
que as experiências se consolidem e avaliando com equilíbrio o que está dando
certo. Precisamos trocar experiências, propostas, resultados.
Autor: José Manuel Moran
Extraído de:http://www.eca.usp.br/prof/moran/educatec.htm