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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Leitura na creche, desde o berçário


LEITURA NO BERÇÁRIO

              Gestos, olhares, choro,balbucio, palavras, ruídos, canções, risadas, deslocamento pelo chão fazem parte do cotidiano do berçário, possibilitam a interação e a convivência entre crianças e adultos. As crianças estabelecem contato com seus pares, tocam-se, movimentam-se, engatinham,manipulam objetos e advertem seus interlocutores por meio de choro quando têm fome, nos momentos em que querem colo, em que necessitam de espaço para se locomoverem, entre outras situações.
         Ao entrarmos em salas de berçário, percebemos as diferentes manifestações das crianças,que dizem  respeito à comunicação que as mesmas procuram estabelecer com os adultos e seus pares.
         Sabendo que o desenvolvimento da linguagem oral encontra-se diretamente relacionado à qualidade da interação que as crianças estabelecem com o adulto e o meio em que vivem, somos desafiados, enquanto professores de Educação Infantil, a conhecermos e a interagirmos com o universo da pequena infância, realizando leituras de histórias e também possibilitando o contato físico delas com os livros, enquanto objeto a ser manipulado.
         Nessa perspectiva de compreensão da leitura enquanto proposta viável e produtiva a ser desenvolvida, desde os primeiros meses de vida, Rizzoli – coordenadora pedagógica da rede pública de Educação Infantil da cidade de Bolonha (norte da Itália) – destaca que: Ouvir histórias tem uma importância muito grande para a criança, pois faz com que ela se sinta importante, sinta que alguma coisa está sendo feita especialmente para ela”.Para a autora, a arte de contar histórias é uma característica muito antiga do ser humano, que possibilita o estabelecimento de empatia entre os indivíduos e a percepção dos sentimentos do interlocutor.
         O bebê, ao escutar a voz do adulto, a entonação da leitura, a conversa estabelecida no momento em que a leitura está ocorrendo e o olhar de quem lê a história, passa a estabelecer um vínculo muito produtivo com ele, pois percebe que o mesmo está lhe dedicando um momento especial.Tal proposição, referente à importância da sugestão de trabalho envolvendo a leitura em turmas de berçário, reafirma-se nos estudos desenvolvidos por Goldschmied e Jackson, quando as autoras evidenciam que as crianças desde de muito cedo adoram ouvir histórias, mesmo que ainda não entendam completamente seus significados.
         Dessa forma, este texto, que aborda a preparação do ambiente para leitura de histórias e as propostas de leitura no berçário, pretende elucidar a importância de possibilitarmos o contato dos bebês com a leitura, além de apresentar dinâmicas que podem ser realizadas em salas de berçário.

 Preparação do ambiente

Preparar um ambiente acolhedor para o momento de leitura de histórias e de contato das crianças com os livros é extremamente importante, pois desse modo o professor irá demonstrar o valor atribuído à leitura e ao momento planejado para a realização da mesma.Nesse sentido, inicia-se o trabalho pela preparação do local em que as crianças irão ficar durante a realização da leitura, forrando as paredes com colchonetes, preparando o chão com almofadas, entre outras possibilidades que serão descritas a seguir.
         As autoras italianas Galardini e Giovannini sugerem que sejam colocadas no chão da sala de aula estruturadas macias e firmes, constituídas por longas almofadas em forma de serpentes (cobertas com tecido colorido laváveis) que podem ser dispostas em diversas posições. Tais almofadas possibilitam a segurança das crianças, protegendo-as de eventuais quedas, e conferem uma dimensão lúdica ao ambiente.
         Também podem ser dispostos no chão da sala os chamados tapetes das sensações, que favorecem o contato da criança com diferentes texturas e também com os livros (de pano, plástico, entre outros) que serão oferecidos.Os tapetes das sensações são colchas formadas por retalhos de diferentes tecidos, que estimulam o tato das crianças no momento em que estão engatinhando, ou mesmo deitadas no chão.
         A construção de cabanas com tecidos coloridos, nos cantos da sala de aula, também despertam a atenção dos bebês e propiciam a interação dos mesmos com seus pares.
         Os livros gigantes, confeccionados em tecidos e espuma,podem ser dispostos no chão, para que as crianças interajam e deitem-se em cima deles.
  
Proposta de leitura

         As propostas de leitura desenvolvidas no berçário, conforme destaca Rizzoli, envolvem a leitura sem letras, com livros que as crianças podem tocar e também levar à boca.Tais materiais de leitura são chamados de livro-objeto.De acordo com a autora, o contato que o bebê tem com o livro é oral e o livro deve ser preparado considerando este fato.Dessa forma, os livros podem ser classificados como livros de pegar, livros de escutar e de olhar.Tais materiais são adaptados para crianças bem pequenas e, portanto, confeccionados com plástico, pano ou papelão comestíveis ( entre outros materiais) que possibilitam às crianças até mesmo mastigá-los.Assim, percebe-se que o livro, além de ser um instrumento de conhecimento, passa a construir-se em meio de promover o relacionamento entre os bebês, seus pares e o professores.Embora as crianças não leiam ( no sentido estrito do termo), o objetivo é ensiná-las a gostarem dos livros.
         Desse modo, após a preparação do ambiente de sala de aula para realização da leitura e manipulação de livros, podem-se utilizar CDs com canções instrumentais, cantigas de roda e cantigas de ninar, antes de iniciar a leitura da história selecionada.Caso a professora não tenha rádio-Cd disponível, ela mesma pode cantar uma música para as crianças.A música entra em cena como um marcador de que a sessão de história irá começar, de que o ambiente foi preparado e de que todos estão reunidos para vivenciarem experiências com sons, palavras e gestos. Podem ser feitas leituras de contos de fadas, parlendas, poesias e até mesmo histórias inventadas pela própria docente.
         No momento da leitura,sugerimos que sejam utilizados recursos sonoros, como entonação da voz do narrador, instrumentos de percussão e também dinâmicas envolvendo movimento, como teatro de sombra, expressão corporal e gestual da professora, teatro de fantoches e manipulação de móbiles com personagens.Outras Pesquisas corroboram com tal argumento, pois a autora percebeu, na creche em que desenvolveu seu trabalho de campo, o envolvimento dos bebês durante as sessões de histórias contadas pelas professoras, que encenavam pequenas fábulas com auxílio de fantoches e até inventavam novos desfechos para elas.Também foi percebido o modo como os bebês interagiam durante a manipulação e apreciação dos livros.
         Mas, quando devem ser realizadas leituras para as crianças e o contato com os livros? Nessa resposta, acompanhamos os estudos desenvolvidos pelos autores Hohman, Banet e Weikart, quando destacam em suas pesquisas feitas em instituições de Educação Infantil, que as leituras devem ser realizadas para as crianças sempre que haja oportunidade: “Durante o tempo do trabalho, no fim do dia, para as que chegam mais cedo, depois do almoço”...entre outras situações que o professor considerar conveniente.
         Sendo assim, consideramos imprescindível essas leituras sejam feitas desde o berçário, no intuito de que as crianças desenvolvam seus próprios sentimentos com relação ao que ouvem, de que interajam com seus pares e professores, de que se sintam acolhidas em um momento de atenção e cuidado, e que vivenciem experiências para o desenvolvimento da múltiplas inteligências, principalmente aquela referente à linguagem.


Texto extraído de: http://www.learningfun.com.br/new/noticiascometariosVer.asp?id=224